Lindo, rico, solteiro, gay... nem
um defeitinho? Uma unha encravada? Chulé? Mau hálito? Com tantos atributos, é
quase impossível não se apaixonar por George
Público-alvo: Adolescente/Adulto
Estrelas ganhas: 4,5 estrelas/5 (quatro estrelas e meia de cinco estrelas)
Tipo de livro analisado: E-book
Especificidade: Gay
Separei uma barra de chocolate,
dei play na minha lista de músicas preferidas do Windows Media Player (o que
inclui Shakira, Glória Gaynor, Elvis, Regina Spektor, Roxette, Beatles entre
outros) e comecei a ler o e-book Um amor
singular 2, de E.N. Andrade. É um livro relativamente pequeno (80 páginas),
sequencia de outro título, o qual ainda não li. Terminei em uma tarde.
É, E. N.
Andrade é bom.
O autor consegue manter um ritmo
irresistível em seu livro, sem perdas de velocidade ou passagens tediosas. É um
texto claro, conciso e bem estruturado, que prende o leitor e o envolve em
passagens interessantes. Para quem torce o nariz por ser um livro gay, prepare-se: não há bizarrices nem
cenas de sexo com detalhes picantes. É tudo descrito, dentro do possível, de
uma forma até comportada. Ponto para Andrade, que escapa do clichê gay de sexo sem limites. A linguagem
utilizada pelo autor, inclusive, é madura e bem elaborada. Há ótimas analogias,
como a sensação do personagem Thomas, de estar enrolado em “filme plástico”, e
precisar de uma “tesoura” que o libertasse. As descrições dos ambientes são
maravilhosas, e não pecam. Enfim, a história no geral, convence com personagens
interessantes e um desenrolar suave e provocante, como chocolate-com-pimenta.
Nem tudo são flores
Não é porque trata do mundo
purpurinado que tudo no livro é glamuroso não! Existem alguns pontos que
precisam de um olhar mais atento do autor, e do leitor reflexivo. Tudo é
perfeito demais, num clichê de mundo gay
dividido entre os que amam e os que odeiam, com ambos vivendo em partes
diferentes sem conflitos verdadeiramente significativos: Thomas faz amigos no
primeiro dia na escola sem nenhuma dificuldade, não tem receio de contar que é gay mesmo estando sozinho e com a
possibilidade de rejeição; logo depois já troca de quarto pro causa do colega
homofóbico, sem conflitos, sem demais desdobramentos. Aliás, numa passagem
chega a comentar que não precisa mais dos amigos porque conseguiu um namorado.
Então, diante de um namorado, os amigos são perfeitamente descartáveis, feito
lenços usados? Aliás, em questão de namorado, Thomas é expert: só ficou com
homens lindos-perfeitos-maravilhosos-quase-deuses. Todos apaixonados por ele.
Logicamente, irreais. O engraçado é que vivemos na década dos bananas e dos fetiches. A imagem de homens perfeitos demais não convence mais, é
ilusória e deprimente – não que eu precise disso para me deprimir, já estou com
meu chocolate, Sinead O’Connor e os olhos cheios de lágrima por estar sozinho
numa noite de domingo. Mas isso não importa. Continuando com o livro, o amor de
Thomas por Max precisa ser analisado sob dois ângulos diferentes (dois parecem
mais do que suficientes para mim): um sob o olhar do amor que protege e guarda,
que se guarda para o outro – mais adequado ao mundo literário. Outro sob o
ângulo próprio do amor gay: dizer que
ama e sair por aí transando com todo mundo antes de tentar voltar para o ex. O
segundo caso parece mais com o de Thomas. Ter esperança de recuperar o namorado
e ao mesmo tempo estar com outro parece contraditório. Um amor tão grande deveria
ter mais espaço de reservas e menos arrependimentos que não o levam a mudar a
realidade que vive. Diz estar praticamente em coma junto com o namorado e
depois transa com o ex (e também amigo) no dia de partir para Madri. Isso me
parece contraditório. Ora o sexo brinda o amor, hora não é nada que mereça
importância. Aliás, ele não parece estar realmente sofrendo, não como Bella em Lua nova, pelo menos. Nunca vi sofrimento (e loucura) maiores que a
dela, e ele não demonstra isso de forma convincente em nenhum momento. Partindo
para detalhes técnicos, o termo “opção sexual” deveria ser substituído por
“orientação sexual”, que é hoje o mais adequado. A passagem em branco do tempo
(Agosto/Setembro/Outubro/Novembro/Dezembro) é o mesmo recurso usado por
Stephenie Meyer em Lua Nova, e o
efeito é anti-literário. Não é interessante porque parece que nada aconteceu
nesse meio tempo – não que ele tivesse de narrar cada mês, mas é preciso pensar
em soluções – mesmo porque Thomas e George estão semi-nus durante 90 % do tempo,
então não haveria muito o que dizer. Os conflitos são o ponto mais sério da
trama. Tenho de dizer que achei Thomas tão carismático quando uma porta, então
50 % da torcida pela felicidade dele foi pelo ralo. A chegada dos casal à
mansão dos pais de George é particularmente problemática: pra quem havia
brigado e dito coisas ruins, a recepção de George pelo irmão Grayson até que
foi muito boa, e ainda chamar o outro de cunhado... Depois a refeição preparada
pelo irmão de George (eles não tem empregadas)? Depois o pseudoconflito com os
pais de George: Thomas sai, chega e não cruza outra vez com os pais de George?
Nenhuma pergunta? George não é interrogado pelos pais? Expulso de lá?
Por fim a redenção entre Thomas e
George, no aeroporto, antes de ele retornar para OREC, não convence. O final do
livro também não – mesmo porque ele ainda não acabou. E tudo rápido demais.
Tantas outras coisas separam o casal, então por que o retorno de Max
significaria um perigo maior? Aliás, se Thomas não ama George (o que ficou bem
claro em muitas passagens) por que torcer para os dois? É melhor acreditar que
ele voltará para Max, já que o ama, e ficará tudo muito bem.
Afinal,
não é todo mundo que tem a sorte de encontrar um homem lindo, rico e disponível
caído a seus pés sem ter de pagar algum preço por ele.
Muito obrigado pela análise, meu caro! Estou imensamente feliz por você ter passado algum tempo se dedicando a isto. Obrigado mesmo, não vejo a hora de você ler o primeiro volume.
ResponderExcluirObrigado pelo comentário e por estar conosco, Netto. Esteja sempre à vontade para discordar do Observatório Clube de Autores, criticar ou elogiar.
ExcluirSempre à disposição,
Um abraço,
Observatório Clube de Autores