Contra o que estamos lutando?
por
Léo Silva
Fiquei extremamente
assustado quando fui conferir os preços dos meus livros esta semana – todos,
sem exceções, custam ao redor de R$30 reais, mesmo o menorzinho deles, que
antes custava R$20. Comecei a pensar no preço que pagamos por autopublicar, e
contra o que temos de lutar.
E concluí que a luta é
grande.
Primeiro,
vivemos em um país onde meio milhão de pessoas tirou nota zero no ENEM, onde o
BBB bate recordes de audiência e, o pior de tudo, onde artistas são eleitos
para representar nosso país na política sem ter a mínima noção de como isso
deveria ser feito. A imagem de lugar idílico, onde “tudo o que se planta dá”,
de paraíso tropical, de libertinagem, parece ainda falar mais alto. Nossa fama
nos precede, nesse caso no pior dos sentidos. Lutamos, em primeiro lugar, para
ser vistos, deixarmos a invisibilidade e conquistarmos leitores.
Segundo,
é difícil escrever e mais difícil ainda é viver de escrita. O mercado nacional
de livros só se movimenta para aqueles que já têm nome ou que conseguem, à
custa de muita autopromoção e propaganda (nem sempre verdadeira), romper a
barreira mercadológica da escrita contemporânea. Lutamos, em segundo lugar,
contra a perversidade da venda de espaço. Contra a marginalização. Escrever
deveria ser a parte mais difícil, mas não é - quando percebemos a dificuldade
de publicar concluímos que é a mais fácil. Dizem que fazem um favor ao publicar
nosso livro, quando deveria ser o contrário – não deveríamos pagar para
escrever, mas ser pagos. É uma profissão. É como se dissessem a um pintor que
ele deveria pagar para as pessoas exporem seus quadros em suas casas. Falando
em escrever, obter um ISBN custa caro demais no Brasil. Li em algum lugar que
no Canadá é possível aos escritores obtê-lo gratuitamente (!). Li também que
quem quiser comprar um lote grande de ISBN (isso nos Estados Unidos) consegue
ótimos preços. Aí eu fico pensando com meus botões: por que tudo é caro e
difícil por aqui? Escrever, revisar, corrigir, comprar ISBN, registrar na
Biblioteca Nacional, correr atrás da publicação, divulgar, vender. Parece uma
linha reta, mas não é.
Terceiro,
a autopublicação é uma ilusão. Recorremos a ela mesmo sabendo que,
provavelmente, não surtirá efeitos positivos que superem os negativos. Na
verdade as editoras que oferecem tal serviço não passam de gráficas que cobram
caro para imprimir livros de qualidade mediana para ruim a altos custos. Em
terceiro, lutamos por visibilidade e por equidade. Fui conferir o preço de um
livro e descobri que ele raramente (na verdade ainda não vi nenhum dos meus)
ficará abaixo dos R$20 reais, mesmo com uma redução drástica de páginas – o
sistema segura um valor mínimo, que até compreendo ser necessário para custear
a produção, mas precisava ser tão caro? Fui conferir no outro site de
autopublicação e percebi que um livro que custa R$30 no Clube de Autores (Um universo a mais) sai por R$40 lá. É
muito caro. É preço de best-seller
internacional. Não vende. São livros que ninguém lê. O preço dos e-books até
que está bom, pois raramente passam de R$10, e eu vendi alguns. Mas eles também
vendem pouco, pois ainda parece haver uma espécie de fetichismo pelo livro
impresso, e nem todos gostam de livros digitais. De qualquer forma, pelo menos
as pessoas estão lendo.
Quarto,
manter a motivação. Sempre escrevi sem me importar se um dia seria lido ou não,
mas chega um momento em que o autor percebe que seus esforços não o estão
levando a lugar algum. Eu quero se lido, por isso escrevo. Manter a motivação
quando tudo parece ser mais importante é complicado. Escrever quando é preciso
trabalhar, cuidar da família, pagar infinitas contas parece supérfluo. Escrever
exige dedicação, concentração, inspiração e trabalho duro. Publicar é caro.
Alguns novos autores são tão desmotivados que fica difícil falar sobre motivação.
A história de outros autores parece não servir para eles, e o circuito nacional
acaba abarrotado de obras internacionais – nomes conhecidos, sucesso de vendas,
enfim, é mais fácil publicar quem automaticamente vende tudo o que escreve do
que investir no novo. Não devemos trocar o certo pelo duvidoso. Em quarto,
lutamos contra a estagnação, o cansaço e contra aquela voz que diz lá no fundo
do nosso ouvido que não acontecerá conosco, que jamais chegaremos lá.
Quinto,
lutar contra nós mesmos. Lutar contra a falta de condições, contra o medo e a crítica.
Lutamos contra o outro, que diz que nosso livro é ruim, está cheio de falhas
(estes nos tornam fortes quando sabem como dizer isso). Lutamos também contra
quem diz que a história é perfeita (estes nos enganam, não nos preparam para o
mundo). Uma palavra pode nos construir ou destruir. Precisamos de incentivo, na
mesma medida em que precisamos de sinceridade. Lutamos contra a crença de que
ainda não está bom, de que o próximo será melhor. Eu mesmo já fiz propaganda
contra mim, dizendo que acho meus livros caros demais – por que realmente são
caros. Queria que custassem no máximo R$20 e que todos que querem pudessem
lê-los. Ano passado fui a um Café Literário a convite de uma amiga, e foi maravilhoso.
Mas não pude levar exemplares para vender, pois a grana estava curta, e eu
tenho medo de comprar livros e não conseguir vendê-los. Lutamos contra o medo
também. Contra o comodismo, as circunstâncias e as limitações.
Enfim,
escrever é uma luta diária. Mas tem seus louros. Dias desses
recebi uma crítica extremamente positiva de uma leitora que não conhecia até
então. É ótimo receber elogios de estranhos, pois certamente são sinceros (por
que um estranho perderia a chance de me detonar se achasse que deveria?). Suas
palavras me deixaram nas nuvens, disse que eu a emocionei, e esse é um dos meus
desejos – emocionar pessoas. Acredito, então, que parte do meu dever está
cumprida.
Agora, de volta à luta.
Sempre à disposição,
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