Tópicos em escrita criativa
por Cristiane Salles - cristianesallesesilva@gmail.com
Ser mãe, mulher,
dona-de-casa, profissional liberal, escritora e blogueira... Parece difícil? É porque
é difícil. Imagine juntar tudo isso ao sonho de encontrar um príncipe
encantado, ter um filho nerd e uma
mãe do tipo moderninha-maluca, um ex-marido que não para de atormentá-la e por
aí vai... Eu praticamente juntei todos os maiores clichês dos livros contemporâneos
num único parágrafo. Clichês devem ser evitados? Ou bem utilizados? Acho que
ambas as coisas. Afinal, escrever é criar algo novo a partir de uma coisa que,
aparentemente, não tinha nada de novo a oferecer.
Acredito, na
superficialidade de meu saber, que clichês devam ser evitados se forem, pura e unicamente,
constituídos por elementos que remetam ao próprio clichê. A partir do momento
em que eu, enquanto escritora, consigo inserir novos elementos no meu texto,
conduzindo o leitor de forma a não entediá-lo, ao mesmo tempo em que me
mantenho fiel ao que propus, acredito que seja possível usar - e usar bem - um
bom clichê. Vejam bem, é praticamente impossível escrever algo completamente
original e esperar que as pessoas engulam com facilidade. Falar da Segunda Guerra
Mundial se tornou um clichê, mas em A
menina que roubava livros Marcos Suzak faz isso de forma completamente
inovadora e envolvente. Comédias românticas são clássicos dos clichês, não é
verdade? Então por que vendem tanto? Por que é o que as pessoas querem ler,
querem saber o final do livro a partir do gênero que escolheram. Sem falar dos
novos livros infanto-juvenis a partir de Harry
Potter, que agora obrigatoriamente devem ser protagonizados por trios de
jovens de no máximo quinze anos com problemas familiares, distúrbios que os
afastam dos outros garotos e garotas da mesma idade, mas que no final descobrem
serem os escolhidos para salvar o mundo do mal eminente. A indústria literária
mercantil exige clichês bem usados, que são os que as pessoas querem ler - ou
infelizmente se acostumaram a ler.
Graças
a Deus que eu não sirvo a essa indústria inescrupulosa,
você poderia me dizer. Concordo e dou todo o apoio a você, mas deixe-me explicar
melhor: o oposto também vende (os livros que ganham concursos literários no
nosso país geralmente são muito diferentes do que descrevi lá em cima, e os que
vendem mais raramente ganham esses concursos), e tudo depende do que você
deseja para si mesmo. Eu desejo vender muito, ganhar muito dinheiro e ter novas
inspirações numa praia do Caribe, com um coquetel numa das mãos e um belo par de
óculos de sol de mil dólares sobre meus olhos (outro clichê). Mas esse assunto
fica para um próximo post - SOBRE O QUE ESCREVER?
Quando nosso leitor
pega uma comédia romântica para ler ele deseja que o casal fique junto no final
(se um dos dois morrer vai se tornar drama); quando um adolescente lê um livro
de aventura ele deseja que o protagonista tenha amigos tão problemáticos como ele;
quando alguém lê o Cinquenta tons de
cinza, de E. L. James, bem, eu não sei o que essa pessoa quer, só sei que
tem vários livros por aí copiando ele, assim como aconteceu logo após o
megassucesso de Stepnenie Meyer, a tão detestada quanto amada série Crepúsculo - depois dele parece que todo
livro para garotas adolescentes precisa de um triângulo amoroso sobrenatural (e
toda mocinha tem de ser meio retardada). É o mal dos nossos jovens leitores
contemporâneos.
Realmente alguns
clichês devem ser evitados. Tenho de dar o braço a torcer.
Até a próxima,
Cristiane Salles em
especial de férias para o Observatório Clube de Autores
Nenhum comentário:
Postar um comentário