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sexta-feira, 23 de janeiro de 2015

“Escrevo somente para mim” – As mentiras que contamos para nós mesmos

Quem disse que devo escrever somente para mim?

Coletiva Observatório Clube de Autores



Quando começamos a escrever costumamos inventar coisas como, por exemplo, que escrevemos tão somente por escrever, por puro prazer, para nós mesmos e, se um dia publicarmos, quem sabe, então será por pura sorte. Entende-se, neste caso, a escrita como fim em si mesma, sem outro objetivo que não nos entreter. Apesar de concordar que o ato de escrever deve ser espontâneo, prazeroso, subjetivo e individual, não posso imaginar um texto que só sirva para mim, que não objetive alcançar outras pessoas, que não ultrapasse a barreira de mim mesmo e mesmo assim seja publicado. Enfim, considerando que, em primeiro plano, escrevo para mim, em segundo escrevo para meu leitor, ou correria o risco de ser infiel comigo mesmo ao oferecer algo que jamais alcançará o outro.
Esse negócio de que escrevo somente para mim é besteira repetida como se fosse regra, e não exceção – certamente escrevemos algumas coisas somente para nós, mas tais coisas não devem ser publicadas.
Vejamos algumas questões, para começo de conversa:

1 – Não é possível agradar a todo mundo. Nem Jesus conseguiu, imagine um escritor.

2 – Mesmo sem tentar agradar a todos, obviamente espero agradar alguém (ou então para que escrevo?). Se ninguém gostar do meu livro, se ninguém se identificar com ele, quem o comprará? Quem comprará o próximo livro? Aqui cabe uma observação: tem gente que acha que uma fama ruim é melhor do que nenhuma.

3 – Escrever somente para si é como conversar consigo mesmo, sem nunca dizer uma palavra para ninguém (é inútil, chato e ridículo).

4 – Se escrevo somente para mim corro o risco de dizer somente o que quero ouvir, o que inviabiliza o diálogo.

5 – Ninguém gosta de crítica, muito menos escritores. Mas a crítica serve para nos colocar alguns limites, sem os quais terminaremos por escrever para as paredes.

6 – Finalmente, escrever para si mesmo é diferente de limitar-se. Posso escrever para mim porque assim serei mais verdadeiro, mas, o mais importante, É ESCREVER SOBRE O QUE EU GOSTO. Ou seja, não é o outro que diz sobre o que devo escrever, mas ele é parte da engrenagem.

Se escrevo somente para mim, para que publicar então? E se publico é porque espero que alguém goste do que eu escrevo, ou não publicaria. Escrever somente para mim é, ao mesmo tempo, colocar-me em primeiro, segundo, terceiro e todos os próximos lugares que porventura venham. Quando escrevo penso que alguém irá gostar, por isso escrevo – ou seja, eu crio meu leitor, embora não possa prever sua relação com meu livro. Não acredito, porém, que eu deva estar à mercê do outro. Eu sou o primeiro a gostar da minha história (se não, por que a escreveria?). Eu sei o que é melhor e o que é certo para a história que procuro contar, mas, se não pensar logicamente em meu leitor, nem uma única vez, como posso conquistá-lo? Tudo é ao deus dará? A escrita é espontânea a ponto de desconsiderar a inteligência de quem lê? De ignorá-lo? Afinal, se escrevo para mim, então POR QUE OUTROS LERÃO O QUE ESCREVO?

A resposta para todas as perguntas é não. Obviamente não. Se a escrita é minha, parte de mim deve manter uma ligação comigo, para ser original e viva eu preciso ser sincero comigo mesmo – mas isso não significa que eu precise romper com o mundo e com todos para escrever. Livros são editados, são revisados, são reescritos. Uma opinião de um colega, uma correção, enfim, considerar o outro enquanto escrevo também faz parte do processo criativo (workshops e cursos não servem para nada então?). Ainda mais se quisermos alcançar o mercado, aí o outro é mais importante ainda. Afinal, quem compra meus livros? Meus leitores. Então, obviamente, minha escrita não é tão neutra assim, pois ela precisa do outro, e eu preciso do dinheiro de quem adquire um livro meu.
Por tudo isso existem técnicas de escrita, padrões, modus operandi literário, se me permitem uma adaptação do termo. Essa história de que só eu importo é a maior mentira de todo o universo literário, e que fazemos o desserviço de manter em nós mesmos. Eu posso, sim, sonhar em ser um autor reconhecido, em escrever best-sellers, em ser lido e amado. Posso gostar de críticas positivas, e chorar com as negativas. Posso me reinventar, assim como posso reinventar a escrita. Eu posso, eu quero e eu devo ser um escritor ambicioso.  Não é pecado.

Sei que o tema parece complexo, mas na verdade é muito simples: conte a história que você gostaria de ouvir, e então será sincero e encherá páginas e páginas – você em primeiro lugar, mas sem esquecer seu leitor. Não quero nem tenho o poder de agradar a todos, mas quero, sim, receber críticas positivas, quero que gostem do meu livro, afinal, por que o escreveria se não fosse assim? Parece que é errado desejar ser um grande escritor, vender muitos livros e assinar um contrato de seis dígitos. O que cria um paradoxo, pois nunca se viveu um tempo tão capitalista como o nosso. Acredito que essa história de que “escrevo para mim mesmo” é uma forma de as pessoas se protegerem de críticas negativas, um estratagema que as protege dos outros. “Se eu der certo no mercado, ótimo, valeu a pena. Se não der, é porque eu nunca tentei mesmo (uma vez que escrevia para mim).” Escritor iniciante (e alguns pseudo-intelectuais também) são raposas olhando uvas: desdenham porque não podem obtê-las.

Eu não escrevo somente para mim. Quero que meu leitor sinta a emoção que sinto, que chore, que vibre e que se encante como eu me encantei ao escrever. Quero que a história que eu escrevo tenha um significado (não é apenas desabafar, passar o tempo, matar árvores à toa). Se fosse somente para mim eu preferiria pensar em detrimento de escrever, economizando tempo, energia e papel. Mas sei que não é. A partir do momento em que a palavra é lançada, cria-se uma dependência mútua, quase um pacto entre escritor e leitor: não vou enganá-lo com páginas e páginas de mentiras, ou você me abandonará ao final e nunca mais voltará (quem compra um segundo livro de um escritor que errou no primeiro?). Ninguém. Agora, se o objetivo é somente escrever, sem se preocupar se alguém lê ou não, então a história é outra. Mas cuidado. Desabafos são chatos, ninguém quer lê-los, assim como ninguém quer ser criticado (embora finjamos concordar que as críticas não nos fazem mal).
Então, antes de repetir frases feitas como um papagaio de pirata, pare e pense um pouco. Reflita. Questione. Quem escreve uma música quer ser um compositor reconhecido. Quem pinta um quadro também quer reconhecimento. Eu escrevo para galgar o difícil caminho da publicação no Brasil, pois acredito no valor do meu trabalho e no meu talento.

E você, para que escreve?

Sempre à disposição,

Observatório Clube de Autores

2 comentários:

  1. Olá! Gostei muito do texto, pois ele expõe dicas pertinentes para nós escritores. Gostaria de saber se vocês resenha livros e como é o processo. Desde já obrigado e sucesso!!

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    1. Olá Dielson!
      Nós resenhamos livros sim, demos uma parada no processo mas estamos voltando. O arquivo em PDF deve ser enviado para: observatorioclubedeautores@gmail.com.
      Cordialmente,
      Observatório

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